A Audiodescrição, técnica que
transforma o visual em verbal, é o caminho para o acesso de pessoas com
deficiência visual à cultura e à informação, contribuindo para sua
inclusão social.
Criada na década de 1970 pelo norte-americano Gregory
Frazier em sua dissertação de mestrado sobre cinema para cegos, e
apresentada à Universidade de São Francisco, a audiodescrição foi
efetivamente implementada somente em 1981 pelo casal Margaret Rockwell e
Cody Pfanstiehl, como forma de ampliar o entendimento das pessoas com
deficiência visual em qualquer evento em que haja imagens, sejam elas
estáticas ou em movimento, concretas ou abstratas.
"Todos, inclusive idosos e disléxicos, podem ser
beneficiados quando a tradução das imagens em palavras seguir regras
básicas, sem inferências, interpretações ou explicações. Talvez este
seja o maior cuidado que se deve ter no uso deste importante instrumento
para as pessoas com deficiência visual, pois a audiodescrição exige
estudo, aprofundamento e técnicas sistematizadas de acordo com a
manifestação artística, e por isso é reconhecida como um trabalho
profissional", explica Rosângela Ribeiro Mucci Barqueiro - coordenadora
de relações institucionais da Laramara (Associação Brasileira de
Assistência ao Deficiente Visual), psicóloga, audiodescritora e
consultora em Inclusão.
A técnica se aplica para eventos culturais (peças de
teatro, filmes, desenhos, animações, programas de TV, exposições,
musicais, óperas, desfiles de moda, espetáculos de dança, mágica,
acrobacias, artes circenses), religiosos (missas, batizados, crismas,
procissões, casamentos, funerais, cultos e rituais em geral), turísticos
(passeios, visitas, roteiros turísticos), esportivos (jogos, torneios,
olimpíadas, caminhadas, trilhas, lutas, competições em geral),
acadêmicos (livros, apostilas, palestras, seminários, congressos, aulas,
banners, feiras de ciência, experimentos científicos, histórias),
corporativos (reuniões, treinamentos, murais de avisos, publicidade e
apresentações).
Segundo Rosângela Barqueiro, "com a inclusão nas
escolas, a tendência é que haverá um avanço maior e mais rápido do uso
deste importante instrumento, e só com ele será possível atender às
exigências de acessibilidade à informação para as pessoas com
deficiência visual".
Como funciona
Para qualquer tipo de audiodescrição, é necessário
que o audiodescritor-roteirista tome conhecimento do material
previamente, pois é preciso estudar termos a serem introduzidos em seu
script de forma precisa, para ser coerente e fiel à obra. Qualquer que
seja o tema a ser abordado é imprescindível uma preparação e o respeito
pela linguagem proposta pelo autor.
Esse recurso pode ser ao vivo ou gravado. A
audiodescrição ao vivo significa que é narrada no mesmo momento da ação,
porém, seguindo um roteiro prévio. É o caso de uma peça de teatro, que,
por acontecer eventuais improvisos, não deve ser gravada. Em teatro e
cinema, por exemplo, o equipamento usado é o mesmo da tradução
simultânea. Os audiodescritores ficam em cabines narrando em microfones e
o som é transmitido para os usuários por meio de equipamentos
radiofônicos sintonizados numa determinada frequência, através dos fones
de ouvido.
Já em auditórios, salas de aula, eventos mais
específicos e com poucos recursos financeiros, utiliza-se um aparelho de
transmissão de FM, cuja audiodescrição é recebida em rádios comuns de
FM sintonizados no melhor canal de transmissão local e com os fones de
ouvido. Este é o mais recomendado, pois, além de eficiente, a própria
pessoa com deficiência participa com seu rádio e seus fones, tendo
domínio total do volume e sintonia, além de ser mais confortável, pois
seus fones são de uso exclusivo.
A audiodescrição gravada é feita em estúdio com
diretor e técnico de gravação. É feita a sincronização do áudio extra
com a audiodescrição e o som do filme. A transmissão da audiodescrição
na TV se faz por canal secundário de áudio e a maior parte das
transmissões atuais na TV brasileira só está disponível na TV Digital.
A audiodescrição é reconhecida como recurso de
tecnologia assistiva, e, felizmente, cada vez mais usado, inclusive do
ponto de vista pedagógico. Ainda não está sendo usado em todas as
escolas, no entanto, é cada vez maior a participação de professores
envolvidos na construção da inclusão efetiva nas salas de aula. "É um
processo trabalhoso, mas igualmente gratificante e satisfatório, porque
sai do discurso e passa para a ação, proporcionando, assim, coerência e
harmonia entre pensar, sentir, falar e agir com inclusão", conclui a
especialista.
A Laramara, por meio de seu departamento de relações
institucionais, já realizou quatro edições do Curso Introdutório à
Audiodescrição, com o objetivo de disseminar o conceito para diferentes
públicos. Desde 2008, vem negociando com escolas técnicas e
profissionalizantes a possibilidade de realização do curso, objetivando
mais oportunidades para os profissionais da área de comunicação, bem
como a ampliação do uso do recurso nas atividades que buscam
acessibilidade e inclusão.
Sobre a Laramara
Laramara é uma das mais atuantes instituições
especializadas em deficiência visual e um centro de referência na
América Latina. Realiza atendimento educacional especializado, com ações
complementares e atividades específicas essenciais à aprendizagem e
desenvolvimento das pessoas com deficiência visual e com deficiências
associadas. As atividades socioeducativas são realizadas em grupos,
organizados por faixa etária e os usuários dispõem ainda de atendimentos
específicos de Braille, Soroban, Desenvolvimento da Eficiência Visual
(Baixa Visão) e Orientação e Mobilidade. Disponibiliza recursos humanos
para a inclusão, colabora para o aperfeiçoamento e a capacitação de
profissionais e divulga suas experiências e aquisições para todo o
Brasil, por meio de 30 recursos instrucionais produzidos por sua equipe,
como livros, manuais e DVD´s, contribuindo para que todas as crianças
brasileiras possam ser educadas e beneficiadas. Laramara trouxe para o
Brasil a fabricação da máquina Braille e da bengala, indispensáveis para
a educação e a independência da pessoa cega. Buscando a inclusão
profissional de jovens e adultos com deficiência visual, ampliou seu
projeto educacional incluindo a preparação para o mundo do trabalho e
vem desenvolvendo um programa para os jovens maiores de 17 anos.
Laramara, desde sua fundação, acreditou no valor do brincar e do
brinquedo para a interação com a criança e para facilitar o
desenvolvimento infantil; defende o direito da criança com deficiência
visual a um aprendizado alegre e prazeroso, com brincadeiras e otimismo e
continua cada vez mais unida em torno deste ideal. O trabalho da
Laramara, que agora completa 21 anos, atua efetivamente no estado de São
Paulo e procura colaborar também para a inclusão das pessoas com
deficiência visual em todo o Brasil.
Associação Laramara
Endereço: Rua Conselheiro Brotero, 338 - Barra Funda - SP/SP
Telefone: (11) 3660-6400 e Fax: (11) 3662-0551
www.laramara.org.br
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Fonte:Jornal Brasil
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